Pra quem suspira na rede
que verão é sinônimo de preguiça,
pulo do sofá como se fosse chapa quente
e levanto meu dedo ao céu em negação.
Não, não…
Verão é transmutação.
É virar líquido no ponto de ônibus, na areia, na fila do açaí.
Transcender a matéria, se transformar em fluidez.
Virar poça na sala, mas sem foco de dengue.
É a poça que é pisada, respingada.
Em meio à dança cai pro rio,
cai pro mar,
cai na roda.
O sal esquenta a ferida,
inquieta e cura.
O fazer acontecer,
o girar a roda.
Ficar parado no verão,
não dá.
Movimento movimenta o ar,
circula.
Atua nos poros,
refresco.
Esta estação, meu bem, é para poucos.
Os poucos que ainda fervem o sangue,
os das pernas polvorosas
e coração em andamento.
Tem que estar vivo,
vivo (!),
pra entender o verão.