Não passarão

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Quem está acostumado
a fechar a porta
a quem não é dos seus,

a jogar ossos
aos nossos,

a não caber os pés
nos sapatos
do próximo.

A impossibilidade de se colocar no lugar do outro.

Machuca sem pensar,
arranca sem olhar.

Sem certezas e sem utopia,
não sente nem a fuligem da chama.

Rege
a sua orquestra imaginária,
baqueta no ar,
conduz o silêncio
que incomoda.

O vazio os aflige,
os faz preencher com
coisas que brilham
por fora.

Pontiagudas,
elas amolam
a faca do medíocre;

golpe final.

Na falta de
um sentido, um amigo,
enche-se de tudo,
quanto maior seja,
qualquer que seja.

Porque só quem desgosta
o gosto
da saliva, do suor, das lágrimas,

compreende

o ladrão que nunca teve fome.
“Abstenha-o”,
falam eles.

Mas não entendem

o amor (é),
o ato de criar junto,
o imaterial.

Força!

Fechar a trava,
barricada no portão,
porque quem cega pelo brilho de fora
nem nota que
dentro

a água sem grandes exibicionismos,
minuciosa e quieta
passa pela rachadura do muro,
e de gota em gota
inunda o castelo.

Ela passa rasteira e serena,
mas nem tudo passa
pela brecha pequena.

Grandes egos
cegos
ficam.

Eles, eles sim,
ouvirão do lado de fora do muro
enquanto singela e crescente,
a água bate em seus pescoços:

“Não, não passarão!”

Não passarão